– relato de experiência em sala de
aula –
por Hilda Souza
Como já dizia
FREIRE: “saber ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. O educador
deve desafiar o educando e produzir sua compreensão a partir do que vem sendo
comunicado e é na escola onde o aluno recria a sua memória.
Dentro de um
estudo sobre a cultura local onde vivem, realizei nas duas instituições onde
leciono (Colégio Santíssimo Sacramento e o Centro Educacional Batista) a atividade
sugerida nos encontros do Dedinho de
Prosa, Cadinho de Memória: o compartilhamento
com meus alunos das idéias de cultura e memória das suas infâncias.
O tempo é
sábio e vai mostrando os verdadeiros caminhos que devemos seguir, basta que
tenhamos abertura e sensibilidade para compreender a sua linguagem: a experiência
foi a melhor possível. Vou começar pelo Centro Educacional Batista, onde os
alunos me surpreenderam muito, trazendo fotos que relembravam a infância, como
no batismo, nascimento, primeiro aniversário, primeiro desfile e etc.
Se eu pudesse escreveria
todos os relatos, mas deixarei aqui expresso relatos de alguns que me chamaram
muito a atenção.
Os gêmeos
Fábio e Flávio, por incrível que pareça, trouxeram a mesma foto onde ambos
estão no velotror fazendo horrores em casa – a turma caiu em gargalhadas
chamando os dois de “irmãos metralha”.
Veio também a
foto do aluno Diego, que aos 3 anos derrubou um vaso na casa de sua tia,
colocando a culpa no seu primo, o qual acabou apanhando em seu lugar –
continuaram os risos.
O relato de
Luís Felipe também chamou atenção quando ele apresentou sua foto aos 4 anos,
indo pela primeira vez ao zoológico em São Paulo, ele empurrou a prima dentro
do poço do hipopótamo (maldoso, não é mesmo?). Peraltices que eles não esqueceram...
Além de muitos
outros relatos, houve o da aluna Jasmine, que trouxe sua foto aos 4 anos quando,
brincando de correr no velotror, a mãe a reclamou e ela não obedeceu e aí, já viu
né? Caiu, quebrou o queixo e no dia seguinte ainda tirou a foto de princesa com
o queixo quebrado, sem contar na surra que tomou.
Levantou-se
também uma grande polêmica quando a aluna Camile nos mostrou a foto dela com
meses de vida, no carrinho, tomando Danone e por um deslize da mãe, ela viu sua
filha no chão. Engraçado e ao mesmo tempo triste, questionaram “porque ela
deixou a filha sozinha?”, “a culpa era da mãe?” etc. Foi uma polêmica danada.
No Colégio Santíssimo
Sacramento foi que a diversidade das lembranças chamou atenção e produziu
encantamento – até porque é uma turma grande, com 32 alunos. Houve cada objeto mais interessante que outro,
mas tentarei resumir pelo menos naquelas que me chamaram mais atenção.
A aluna
Gabriela apresentou uma foto de quando era criança, aos 2 anos de idade, com o
vestido que o bisavô a deu e também levou o próprio vestido ao vivo e a cores
que tem até hoje.
Outro aluno trouxe
o cabide que ganhou quando bebê da avó, o qual existe até hoje no seu guarda-roupa
e quando ele o abre só lembra da sua
infância.
Outra muito interessante
foi a foto da aluna Elizabeth, onde ela e o irmão estavam brincando de selva, na
sua primeira casa em Sergipe, e o pai pintou a ambos (ele como tigre e ela de
zebra) – a turma caiu na risada. A menina também trouxe a
camisa com o desenho de um carneirinho que ela tem desde pequena e nunca deixou
a mãe dar ou jogar fora, ela lembra também que bastava cantar a música da “ciranda,
cirandinha” e ela dormia.
Foram fotos e
mais fotos, vestidos, roupas, bandas de música com baldes da mãe, livros,
crochê, cachorros que foram ganhos juntos com roupas, dado, pincel... Foram
muitos, porém dois chamaram muito a minha atenção e a da turma: o aluno
Guilherme levou dois dentinhos de leite; contou que sua vizinha era única pessoa
quem ele deixava arrancá-los. Todos ficaram abismados.
Chamou-nos atenção
que mesmo com fotos de entes queridos que já faleceram houve tantas
manifestações alegres, porém a aluna Luize Barreto trouxe várias fotos suas internada,
com pneumonia, no hospital Santa Izabel, junto a uma coleguinha que conheceu lá.
Todos ficaram tristes junto da aluna. Ela também mostrou o vestido que ganhou
do pai aos seus 2 anos, para ir ao shopping ver o papai Noel. Logo que o conheceu
ficou com medo dele, foi para casa, mas não quis mais ver o vestido que a lembrava
a ocasião no shopping.
E assim concluo
meu relato com a certeza de que: precisamos
de uma pedagogia da alegria que estimule as capacidades criativas do aluno e
transforme a educação numa festa. Se
Deus nos criou por amor, Ele quer que vivamos todos felizes com relações
fraternais. Uma felicidade que se traduz em compromisso de entrega, a sonhar e
a buscar um modo que possibilite a todos a autêntica alegria brotada do
serviço, da justiça, do amor e da verdadeira PAZ.
Ser professor
é oferecer asas às crianças para que possam voar com sua fantasia, percorrer os
caminhos da imaginação, visitar estrelas e países encantados, falar com as
mariposas e trupiais, descobrir horizontes insuspeitados e descansar no peito
da lua.
Estimulemos
nossos alunos à capacidade de crer e criar para que nunca se deixem aprisionar
pela mediocridade rasteira, sem alma, do materialismo que nos domina e esmaga e
que não nos deixa sonhar.
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Hilda Souza é educadora que toca na alma de alunos
do Centro Educacional Batista Betel e do Colégio Santíssimo Sacramento com
muita dedicação e poesia.
Fiquei encantado com seu relato Hilda, parabéns!
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